“A morte da Aline repercutiu porque ela era conhecida, mas ali morre gente direto”

Em entrevista ao Cotia e Cia, o ativista social Israel Fávaro detalha como é a chamada ‘cracolândia de Cotia’, onde a ex-modelo Aline foi asfixiada e carbonizada; veja também fotos do local e a nota da Prefeitura

Foto do antigo Cotia Hall enviada ao Cotia e Cia por Israel Fávaro 

Reportagem: Neto Rossi

No imóvel onde a ex-modelo Aline Laís Lopes, 34, foi asfixiada e carbonizada, funcionava um salão de eventos chamado Cotia Hall, que após encerrar as atividades ficou abandonado. Com isso, o espaço foi dominado, aos poucos, por usuários de crack. Hoje, já chamado de ‘cracolândia de Cotia’, cerca de 30 pessoas moram ali, em meio aos ratos e muita sujeira.


Ativista social e morador de Cotia, Israel Fávaro conhece bem o local. Ele realiza um trabalho entregando roupas e marmitas para os moradores da cracolândia. Vez ou outra, ele ainda tenta recuperar a dignidade e humanidade dos dependentes químicos, os levando para tomar banho, cortar o cabelo, entre outras atividades.

Em entrevista ao Cotia e Cia nesta quinta-feira (2), Israel contou que não tinha contato muito próximo com Aline, mas afirmou que a sua morte só tenha dado toda essa repercussão pelo fato de ser popularmente conhecida. “Ali [na cracolândia de Cotia] morre gente direto. [A morte da Aline] repercutiu porque ela era conhecida. Direto ali some gente. Já foi polícia lá dentro para cavar e procurar corpo”, revela.

Ele detalha que no imóvel abandonado moram cerca de 30 de pessoas, quase todas usuárias de crack. Mas o espaço é frequentado também por visitantes de diversos perfis sociais.

“Ali passa muita gente. De sexta-feira à noite, que é quando a gente leva as marmitas, passa muita gente para usar droga, por ser um local muito escondido. Eles param o carro lá dentro, usam a droga e vão embora. Eu até assusto as vezes, pois vai gente engravatada, gente bem vestida, com carros bons. Vejo direto gente com muita grana indo lá”, detalha.

“[Lá] é sombrio, sujo, abandonado, cheio de rato, cheio de barata. As pessoas ali já não têm mais a família. A família já cansou, na maior parte das vezes. As pessoas ali já não têm mais nem sonho. A droga já roubou o sonho e a esperança dessas pessoas”, complementa.

Ativista social, Israel Fávaro. 



OUTRO LADO

Procurada pelo Cotia e Cia, a Prefeitura de Cotia disse que está procedendo o pedido judicial para demolição sumária do imóvel. Explicou ainda que em janeiro de 2022, a Secretaria Municipal de Governo solicitou, via ofício, que a Secretaria de Habitação e Urbanismo elaborasse um laudo técnico do imóvel que apontasse a real situação do local, bem como fizesse a identificação e notificação do proprietário solicitando a interdição do local. Mas, segundo a Prefeitura, o proprietário foi notificado e não tomou nenhuma providência.

Diante disso, em fevereiro de 2022, a Prefeitura detalhou que a Secretaria de Governo encaminhou um ofício solicitando à Secretaria de Assuntos Jurídicos e da Justiça que movesse uma ação judicial para que o Executivo pudesse fazer a demolição de forma compulsória do imóvel, que está com sua estrutura comprometida, conforme laudo da Secretaria de Habitação e Urbanismo.

“A Prefeitura já está procedendo o pedido judicial para demolição sumária das referidas construções”, disse.

Mas, para Israel Fávaro, somente demolir o imóvel não vai adiantar. “Se não tiver um trabalho junto à essas pessoas, um local público de acolhimento, infelizmente vai fechar o Cotia Hall e o problema só vai mudar de lugar”, diz. “É bom lembrar também que ali existem pessoas que não são usuárias de droga. Estão ali por falta de trabalho e de moradia; pessoas que saíram do aluguel e pararam ali como única opção”, conclui.


INVESTIGAÇÕES EM ANDAMENTO

Sobre a morte da ex-modelo Aline, a Polícia Civil, por meio da Delegacia de Cotia, disse ao Cotia e Cia que representou à Justiça pela prisão temporária de mais duas pessoas suspeitas de envolvimento no homicídio. Elas prestaram depoimento nesta quarta-feira (1) e foram liberadas.

A Polícia Civil informou que as investigações prosseguem para identificar outros envolvidos no crime bem como esclarecer todas as circunstâncias relacionadas aos fatos.

VEJA ABAIXO AS FOTOS DA CRACOLÂNDIA DE COTIA:













TODAS AS FOTOS FORAM ENVIADAS AO COTIA E CIA POR ISRAL FÁVARO
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