Autoescola em Cotia acumula processos na Justiça por suspeita de golpe em cartas de habilitação

Segundo os processos que Cotia e Cia teve acesso, a autoescola Cidade das Rosas não está credenciada no Detran, mesmo assim, continuou oferecendo serviços sem autorização; clientes denunciaram empresa por não fazer devolução dos pagamentos; localizada no centro de Cotia, autoescola deve cerca de R$ 20 mil de aluguel ao proprietário do imóvel

 

Autoescola Cidade das Rosas está com as portas fechadas. Foto: Neto Rossi / Cotia e Cia



A autoescola Cidade das Rosas, em Cotia, já tem cerca de dez processos recentes na Justiça com a mesma denúncia: suspeita de aplicar golpes em clientes que contratam o serviço da empresa para tirar cartas de habilitação e não conseguem concluir o procedimento.

Cotia e Cia acessou três processos contra a autoescola. Em um deles, o cliente pede indenização por danos morais após não ter seu dinheiro devolvido pela empresa. Ele precisava da habilitação para levar sua esposa ao hospital para fazer tratamento de câncer.

Em outro caso, um morador de Cotia levou prejuízo de R$ 900 após ter pago aulas para conseguir a adição da categoria B em sua carta. No terceiro, uma mulher também foi vítima da autoescola com o pagamento de quase R$ 3 mil pelo serviço que não foi prestado.

A reportagem ainda apurou que a autoescola Cidade das Rosas, antes localizada próximo à Câmara de Cotia e hoje na Avenida Antônio Mathias de Camargo, no centro, não paga aluguel ao dono do imóvel há cinco meses, acumulando uma dívida de cerca de R$ 20 mil.

PROCESSO 1: TRATAMENTO DE CÃNCER

Em um dos processos que Cotia e Cia teve acesso, um homem relata que contratou o serviço da autoescola em outubro de 2019 para conseguir habilitação na categoria B. Após o pagamento de R$ 800, a empresa disponibilizou as datas para o início das aulas de direção. Mas o cliente foi pego de surpresa com o cancelamento das aulas, que foram remarcadas por mais duas vezes, porém, não aconteceram.

Um dos motivos alegados pela autoescola foi a restrição devido à quarentena imposta pelo governo de São Paulo, na ocasião. Após esse período, o cliente foi até o endereço da autoescola e constatou que a mesma havia mudado de localização, sem avisá-lo.

Com o novo endereço em mãos, ele foi até o local e conseguiu agendar a aula. Mas, no dia, esperou por mais de duas horas e foi frustrado novamente ao receber a informação que a empresa não tinha autorização do Departamento de Trânsito (Detran) para atuar no local.

O cliente então tentou por diversas vezes, por meio de conversas no WhatsApp, fazer com que a autoescola cumprisse com sua obrigação ou então fizesse a devolução de seu dinheiro. Mas nem uma e nem outra coisa aconteceram. E isso tudo já faz dois anos. Ele precisava da habilitação para conseguir levar sua esposa ao hospital para fazer tratamento de câncer.

PROCESSO 2: SEM RESPOSTA DA AUTOESCOLA

Em outro caso, que ocorreu em agosto de 2019, o cliente procurou o serviço da autoescola para adição da categoria B em sua carteira. Ele pagou R$ 900 pelo serviço.

Ele relatou no processo que o prazo estipulado pela autoescola Cidade das Rosas para este serviço é de 45 dias. Mas o homem disse que o combinado seria o prazo de três meses, após entrega do exame e o término das aulas.

Ele esclareceu que pagou R$ 90 pelo exame médico e mais R$ 900 pela adição da categoria em sua carteira.

O homem relata ainda que conseguiu fazer apenas sete aulas e que a empresa não entrou mais em contato com ele para a conclusão. Após outras tentativas de contato, a autoescola não o respondeu mais.

PROCESSO 3: PREJUÍZO DE QUASE R$ 3 MIL

Outro processo contra a autoescola Cidade das Rosas, também de 2019, pede indenização por danos materiais. Uma moradora de Cotia entrou na Justiça e denunciou o mesmo problema.

Diz a moradora que, assim que terminou as aulas do CFC para dar início às aulas de direção, não conseguiu mais fazer contato com a autoescola. Apenas depois de um mês, ela conseguiu marcar prova teórica no Detran. Com o resultado da prova, ela foi até a autoescola para começar as aulas práticas.

“Eles [funcionários da autoescola Cidade das Rosas] marcaram tudo no papel os dias que ela iria ter aula, pois muitas das vezes não tinha aula, às vezes o carro estava quebrado ou ocupado (era apenas um carro para dar aulas para vários alunos), faltava instrutor, remarcavam o dia, pois colocavam outras pessoas no horário marcado dela (detalhe: eles nunca avisavam quando não iria ter aula, nunca ligavam)”, diz em trecho do processo.

Ela segue dizendo que, apenas em janeiro de 2020, conseguiu terminar as aulas e fez a prova prática no mês seguinte. Ela marcou o início das aulas práticas para março, mas não conseguiu concluir devido à pandemia.

Somente em setembro, com a retomada gradual de setores econômicos no estado de São Paulo, que ela iria dar início às aulas. Mas não aconteceu como esperava. Segundo a moradora, a autoescola ou remarcava o dia ou encontrava-se fechada. Na verdade, a empresa tinha mudado de endereço e, novamente, não avisou seus clientes.

Devido à enrolação, a mulher então pediu para que a autoescola cancelasse a habilitação de moto e deixasse somente a de carro. Ela preencheu um papel, reconheceu firma e levou de volta na autoescola. No entanto, a carta de carro ainda não chegou em sua residência.

“Toda vez que foi tentado algum tipo de conversa com o dono da autoescola, ele sempre deu uma data diferente para resolução do caso, mas até o presente momento a cliente não tem sua habilitação em mãos. Além do mais, a autora teve que se locomover com carro de aplicativo, uma vez que não está habilitada e sua avó necessita muito de um carro, visto que é deficiente visual”, relata o processo.

O total de gastos que essa cliente teve com a autoescola foi de R$ 2.893,00.

OUTRO LADO

Cotia e Cia entrou em contato com o Departamento de Trânsito de São Paulo (Detran-SP) na tarde desta quarta-feira (6) para confirmar as informações dos processos em relação ao não credenciamento da autoescola Cidade das Rosas no departamento. O Detran, no entanto, não respondeu ao nosso contato dentro do prazo estipulado.

A reportagem foi até a Avenida Antônio Mathias de Camargo onde a autoescola está situada, mas as portas da empresa estavam fechadas.

Cotia e Cia ligou por várias vezes no número de telefone disponibilizado na placa da fachada da autoescola, mas ninguém atendeu.

ATUALIZAÇÃO: Após a publicação dessa reportagem, nesta quinta-feira (7), o gerente da autoescola Sérgio Augusto entrou em contato com o Cotia e Cia e concedeu uma entrevista apontando a burocracia e criticando o Detran, disse ainda que alunos serão ressarcidos (leia a reportagem completa clicando aqui).

Reportagem: Neto Rossi
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