A cultura do “quanto mais, melhor” tem levado muita gente a se auto suplementar, mas o excesso de vitaminas pode ser tão prejudicial quanto a falta delas
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Foto: Reprodução / Freepik |
Nutrição Modo On, por Grazi Fernandes
Você já comprou vitaminas na farmácia sem saber se realmente precisava?
Espirrou? “É falta de vitamina C.” Teve câimbras? “Falta de potássio.”
A unha quebrou? “Falta de biotina!”
Mas será que se auto suplementar faz mesmo sentido? E ainda: será que esses sintomas têm relação direta com a carência de nutrientes? A resposta é simples: nem sempre.
O nosso organismo é dinâmico e o sistema imunológico, oscilante. Muitos sintomas pontuais são multifatoriais, ou seja, podem ter diversas causas e não necessariamente indicam falta de vitaminas ou minerais. Quando esses sinais persistem, o melhor a fazer não é correr para a farmácia, e sim procurar o seu médico.
A suplementação pode, sim, ser uma grande aliada, mas apenas quando há real necessidade e sob orientação profissional.
O mito do “mais é melhor”
A crença de que tomar suplementos “por precaução” ajuda a fortalecer o corpo é antiga e foi reforçada por campanhas publicitárias, mídias e até por alguns profissionais que banalizam o uso desses produtos.
Por trás desse comportamento está a ideia de que, se um nutriente faz bem, mais dele só pode fazer melhor quando, na verdade, exagerar pode causar o efeito contrário.
Vitaminas e minerais são micronutrientes, ou seja, o corpo precisa deles em pequenas quantidades para manter o equilíbrio. Eles participam de reações químicas vitais, do metabolismo energético e da função imunológica, nervosa e muscular.
Porém, o segredo está na quantidade certa, e uma alimentação equilibrada geralmente é suficiente para suprir essas necessidades.
Quando o excesso vira problema
O consumo sem orientação pode causar o que chamamos de hipervitaminose, uma intoxicação provocada pelo excesso de vitaminas. Esse quadro pode levar à sobrecarga dos rins e do fígado, interferir na absorção de outros nutrientes e causar sintomas como náuseas, fadiga, dor de cabeça e até alterações neurológicas, dependendo da substância.
Por isso, antes de sair comprando cápsulas coloridas, é fundamental fazer exames laboratoriais e consultar um nutricionista ou médico. São eles que vão avaliar se há deficiência real, qual a dosagem ideal e como evitar interações negativas entre vitaminas e minerais.
Suplementar, simm mas com propósito
Existem casos em que a suplementação é fundamental, como em:
- Deficiências nutricionais diagnosticadas;
- Fases específicas da vida (gestação, envelhecimento);
- Problemas de absorção (como após cirurgia bariátrica);
- Doenças intestinais severas;
- Restrições alimentares rigorosas;
- Atletas e pessoas com alta demanda energética.
Nessas situações, o suplemento complementa a alimentação e ajuda a restabelecer o equilíbrio nutricional.
Inclusive, há uma regulamentação internacional que orienta as doses seguras: o documento Dietary Reference Intakes (DRIs), desenvolvido por um comitê científico da National Academy of Sciences (EUA) em parceria com o governo canadense. Ele define limites máximos e mínimos para ingestão de vitaminas e minerais, algo que muitos ignoram ao se automedicar.
O essencial continua sendo o básico
Uma boa alimentação, exames periódicos e acompanhamento profissional ainda são as melhores estratégias para manter a saúde em dia. Suplementos não substituem hábitos saudáveis e, usados sem necessidade, podem custar caro - para o bolso e para o corpo.
Portanto, antes de acreditar que o próximo comprimido é o segredo da vitalidade, lembre-se: o equilíbrio ainda é o melhor remédio.