População de rua em Cotia cresceu 119% desde a pandemia; veja o raio-x completo

Para especialista, o problema na cidade tende a crescer por falta de ações do poder público; dados foram levantados pelo Cotia e Cia junto ao Observatório Nacional dos Direitos Humanos; veja o que diz a Prefeitura 

Foto: Facebook / Israel Fávaro

Por Neto Rossi

Cotia tem 149 pessoas em situação de rua, sendo a maioria homens com idade entre 30 e 49 anos; 80% não nasceu na cidade e 56% está nessa condição por conta do vício em drogas.

É o que revela o levantamento feito pelo Cotia e Cia junto ao Observatório Nacional dos Direitos Humanos, plataforma do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, com dados até julho de 2023.

Na realidade, a quantidade de pessoas em situação de rua pode ser ainda maior, pois o estudo levou em consideração apenas as pessoas inscritas no Cadastro Único.

“Eu tenho anotado 189 pessoas nessa situação. Têm muitos que ficam sozinhos, escondidos. Cotia tem uma região de mata muito extensa”, explicou o especialista Israel Fávaro, que há 18 anos realiza ações junto às pessoas em situação de rua em Cotia.

De acordo com o levantamento, o número de pessoas que estão nas ruas da cidade mais do que dobrou desde a pandemia, já que, em 2020, eram 68 (um aumento de 119%). Em comparação com 2016, quando havia 38 pessoas nessas condições, o crescimento representa 292%.

“Se nós não abrirmos os olhos rápido, esse número vai aumentar cada vez mais. Eles precisam ser vistos, precisam ser cuidados”, alerta Israel.

A Prefeitura de Cotia explicou que, como a cidade faz divisa com 12 municípios da região metropolitana de São Paulo, bem como está a 34 km da Capital, torna-se um município de fácil acesso e de passagem para essa população que migra constantemente de um local a outro. 

"Considerando ainda as constantes ações realizadas pela prefeitura de São Paulo em conjunto com o Governo do Estado, as pessoas em situação de rua que estavam fixadas em algumas regiões conhecidas de São Paulo passaram a migrar para as cidades da região metropolitana e em Cotia não foi diferente", disse (veja a nota da prefeitura na íntegra no final da reportagem).

O PERFIL DA POPULAÇÃO DE RUA EM COTIA

Em 2023, o perfil da população de rua em Cotia, de acordo com os dados da plataforma, era majoritariamente masculino (89,9%), de pessoas negras (58%, somando pardas, 48%, e pretas, 10%) e em idade adulta (61% tinham entre 30 e 49 anos).

Os principais motivos apontados para a situação de rua foram o alcoolismo e/ou uso de drogas (56%), os problemas familiares (47%), seguidos do desemprego (34%) e perda de moradia (28%).

Com relação ao tempo em situação de rua, 77 pessoas (52%) encontravam-se nessa situação entre 6 meses e um ano. Segundo o estudo, 17 pessoas (12%) declararam viver nas ruas há mais de 10 anos.

A maior parte dessas pessoas informou que não vivia com suas famílias na rua (93,9%). Das 149 pessoas cadastradas em Cotia, 96 (65%) disseram que nunca ou quase nunca tinham contato com parentes fora da condição de rua.

Quanto ao local de nascimento, 119 (80%) nasceram em outro município, 27 (18%) nasceram em Cotia e 3 (2%) em outro país, no caso, dois na Colômbia e um na Argentina.

Foto: Vagner Santos / Prefeitura de Cotia

ESCOLARIDADE E TRABALHO

Quanto à escolaridade, 140 pessoas (94%) declararam que sabiam ler e escrever, mas nenhuma frequentava escola.

Em relação ao trabalho, 104 pessoas em situação de rua em Cotia já tiveram emprego com carteira assinada. Mas, apenas 10 informaram ter trabalhado na semana anterior à sua inclusão no Cadastro Único.  

Dentre eles, 37 informou que trabalha como catador, 13 como guardador de carro, 12 como pedinte, 11 com serviços gerais, 9 com vendas, 4 com construção civil e 2 como carregador; 67 pessoas não quiseram responder e 24 falaram que ganham dinheiro de outra forma.


EXISTE UMA SOLUÇÃO?

Para Israel Fávaro, o primeiro passo para resolver, ou pelo menos tentar amenizar esse problema, é estabelecer um vínculo mais próximo com essas pessoas. E, para isso, segundo ele, deve haver união entre as entidades que já realizam trabalho com essas pessoas e o poder público municipal.

“O número [de pessoas em situação de rua] em Cotia só vem crescendo. Se não houver humanização e um trabalho envolvendo a saúde, segurança e várias outras áreas do setor público, a gente não vai conseguir sanar esse problema. Tem que pegar essas pessoas que já realizam no dia a dia esse trabalho junto aos irmãos de rua e envolvê-las com o setor público”, explica.

Israel Fávaro ao lado de uma pessoa em situação de rua em Cotia. Foto: Reprodução / Redes sociais 

Para o ativista social, esse tipo de trabalho junto à população de rua deve ser constante para haver uma afinidade maior. Israel destaca, para isso, uma palavra-chave: convivência.

A maior solução para todo esse problema chama-se convivência. Apenas com a convivência nós vamos conseguir entender o que fez essas pessoas perderem tudo. Amigos, famílias, sonhos... Muitos esqueceram até de si mesmos. Então, é a convivência que vai fazer a gente entender a raiz do problema
VEJA ABAIXO A NOTA DA PREFEITURA DE COTIA 

A Prefeitura de Cotia, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, oferta os serviços de Centro Dia (em que a pessoa em situação de rua pode exercer a rotina do dia a dia, tais como se alimentar, realizar suas higienes pessoais e outros), bem como pernoite (em que, além de realizarem suas atividades de higiene pessoal e alimentação, possuem local específico para dormir). 

Sendo oportuno destacar que os serviços são caracterizados como porta aberta, podendo qualquer pessoa em situação de rua procurar o local ou pedir auxílio ao CREAS que fará as devidas intervenções. 

Vale ressaltar que em ambos os serviços, a equipe multidisciplinar realiza um plano de atendimento individual de cada atendido, traçando metas a serem alcançadas em todos as áreas como acesso a documentação, atendimento na área da saúde, educação, trabalho e acesso a benefícios. 

Além disso, é realizada a busca por familiares para reconstituição dos vínculos familiares e afetivos nos casos em que existe essa possibilidade. Esse plano de atendimento é pensado em conjunto com o atendido, traçando suas potencialidades e resgate de sua autonomia para superação da situação de rua.

Considerando que o município de Cotia faz divisa com 12 municípios da região metropolitana de São Paulo, bem como está a 34 km da Capital, torna-se um município de fácil acesso e de passagem para essa população que migra constantemente de um local a outro. 

Considerando ainda as constantes ações realizadas pela prefeitura de São Paulo em conjunto com o Governo do Estado, as pessoas em situação de rua que estavam fixadas em algumas regiões conhecidas de São Paulo passaram a migrar para as cidades da região metropolitana e em Cotia não foi diferente. Segundo levantamento realizado no banco de dados do município, bem como no Cadastro Único, desse público cadastrado, 95% não são de origem do município.

A administração municipal constantemente adota estratégias de atendimento para essa população, visto se tratar de um público específico e heterogêneo. Por essa razão, as equipes estão constantemente nas ruas realizando abordagem, mapeamento e direcionamento dessa população. O cadastro único é realizado em 100% dos casos por meio das equipes volantes e unidades do Centro de Referência Especializado de Assistência Social - Creas unidade Central e unidade Caucaia do Alto.

As políticas públicas que norteiam pessoas em situação de rua, levam em conta os diversos motivos que possam levá-las a essa situação, tais como desemprego, drogadição, conflitos familiares e outros. Além disso, fatores alheios à vontade da municipalidade ocorrem na região que impactam diretamente no aumento dessa demanda na cidade conforme esclarecido anteriormente, de toda forma, a municipalidade não deixa de prestar todo atendimento à essa população conforme esclarecemos.

As pessoas em situação de rua, após intervenções na área da Assistência Social por meio das equipes de abordagem, são encaminhadas ao serviço de Centro Dia e pernoite, local onde terão seus direitos resguardados e atendidas suas necessidades básicas, bem como participam de atividades/programas de qualificação.

Mensalmente, são atendidas 60 (sessenta) pessoas em situação de rua, englobando ambos os sexos, sendo que o acesso se dá por meio da busca espontânea da própria pessoa e ou encaminhamento por meio do CRAS/CREAS on-line, Equipe de abordagem noturna e do CREAS do Município.Vale ressaltar que qualquer atendimento deve ser de livre 'aceite' da pessoa atendida.

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