Avanço imobiliário e ocupações irregulares ameaçam Reserva do Morro Grande, dizem ambientalistas

Para eles, a criação de um Parque Estadual na Reserva Florestal seria eficaz para proteger e conservar o patrimônio

Reserva Florestal do Morro Grande. Foto: Divulgação / Sabesp


Diante do avanço de empreendimentos imobiliários e ocupações irregulares no entorno da Reserva Florestal do Morro Grande, em Cotia, ambientalistas se reuniram, na semana passada, para pautar o assunto e defenderam a transformação de parte da reserva em Parque Estadual. A medida, segundo eles, serviria para conservar o patrimônio e evitar ameaças a sua preservação.

Na prática, os ativistas ambientais explicam que o reconhecimento do Parque Estadual do Morro Grande significa a possibilidade de manter a destinação específica que criou a Reserva Florestal, compatibilizando usos turísticos com sua função de manancial de abastecimento público e adequando a legislação de criação das unidades de conservação.

Eles relembram que não é a primeira vez que se discute o uso turístico do entorno da Reserva Florestal do Morro Grande, criada em 1979, já como uma unidade de conservação e posteriormente tombada pelo Patrimônio Histórico Cultural.

“Em 2012, uma organização civil em parceria com a Prefeitura de Cotia iniciou a discussão para a Criação do Polo de Ecoturismo que, entre outras ações, previa a criação de um campo de golfe e atividades aquáticas na Represa. O projeto chegou a ser apresentado para a Sabesp, que é a mantenedora do espaço, mas nunca foi adiante”, detalham os coletivos.


O encontro online, convocado pelo Coletivo PanVerde e Movimento Transition Towns Granja Viana, teve a participação de 23 pessoas.

Além dos representantes dessas entidades, também marcou presença o vereador de Cotia, Luiz Gustavo Napolitano, que se colocou à disposição, primeiro para se inteirar sobre o tema, e depois intermediar as conversas com o governo municipal e seus colegas do legislativo.

Segundo as entidades, os secretários municipais Gustavo Gemente (Meio Ambiente), Almir Rodrigues (Segurança Pública), Sérgio Folha (Habitação) e Nelson Broering (Turismo) também foram convidados, mas não compareceram.

“SABESP PROVOCOU DANOS AMBIENTAIS”

Para os ambientalistas, a Sabesp, mantenedora da reserva, é uma das responsáveis pela ameaça local. De acordo com eles, quando houve a construção do Sistema Produtor São Lourenço de Água, que abastece parte de Cotia e cidades da região, a companhia de abastecimento provocou danos ambientais que precisam ser reparados.

“E como ela [a Sabesp] pretende fazer isso? ‘Fragmentando’ a reserva em 3 partes e criando Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs). Juntas, as 3 áreas somam 18,39 Km quadrados”, detalham.

Eles também argumentam que a Sabesp não pode criar as RPPNs, uma vez que a área da reserva, mais de 10 mil hectares, é pública, e não particular.

“Segundo informou, em ofício, a Fundação Florestal, a área da Reserva Florestal do Morro Grande é inalienável. Ou seja, não pode ser alienada do patrimônio do Governo do Estado de São Paulo”, ponderou o geógrafo Marcos Ummus, um dos responsáveis por estudos detalhados sobre a Reserva.

Para Ummus, uma das formas de proteger a reserva é justamente a criação do Parque Estadual. “Cientistas indicam que Morro grande precisa ser preservado integralmente”, pontua.

Agora, o grupo de ambientalistas quer que a Prefeitura se posicione. “A reserva é um bem difuso. O município tem toda a legitimidade de decidir o seu destino”, argumenta o advogado, integrante do coletivo Pan Verde e proprietário da Cidade das Abelhas, Thiago Doninni.

O QUE DIZ A PREFEITURA DE COTIA

Procurada, a Prefeitura de Cotia disse ao Cotia e Cia que, por meio de suas secretarias, tem acompanhado as discussões de implantação de um projeto que versa sobre ecoturismo na região da Reserva Estadual do Morro Grande.

A administração municipal explicou que tem ciência da importância da execução de projetos, como o ecoturismo, criados de forma sustentável e que não degrade o meio ambiente.

“Por se tratar de uma Reserva Estadual, inserida em Área de Proteção de Manancial (Guarapiranga) e estar sob domínio da Sabesp, cabe a Prefeitura acompanhar o desenvolvimento do projeto e, no que tange às suas atribuições e análises, contribuir no que couber, com sua eventual implantação”, informou ao site.

Uma nova reunião online ficou agendada para o próximo dia 16, quando se pretende dar sequência e formalizar a apresentação do projeto do Parque Estadual para a Câmara de Cotia.

Procurada pela reportagem, a Sabesp não comentou o assunto dentro do prazo estipulado.

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