Editorial: "Em Cotia nossos bosques têm mais vida e nós menos respeito?"


Reserva Florestal do Morro Grande
A palavra do século XXI é “sustentabilidade”, termo criado em 1972 pelo Clube de Roma, que significa o desenvolvimento da humanidade sem prejudicar as gerações futuras. Qualquer um que use o termo é visto com bons olhos, principalmente as empresas, porém, nem sempre o que se diz é o que acontece na prática. Por dias seguidos a cidade de Cotia foi palco de denúncias ambientais, por mais de uma vez foi exibida no telejornal SPTV da Rede Globo com casos de desmatamento. Sustentabilidade onde? A cidade que faz tanta propaganda de suas áreas verdes tem feito pouco caso para mantê-las. A verdade é que esta palavra tão grande e com som tão bonito se torna um incômodo quando a prioridade é o desenvolvimento, na verdade um termo inconveniente.

Cotia possui mais de 10.000 hectares de seu território em área de reserva florestal da Mata Atlântica, a chamada Reserva Floresta do Morro Grande, uma das maiores que ainda restou, e só quem mora nessas áreas pode dizer o bem que faz respirar o seu ar. Mas nada disso parece ter relevância quando a especulação imobiliária entra em jogo. Quem mora no município há mais de dez anos sabe o quanto enormes pedaços de mata foram devastados para a construção de condomínios. Muitas vezes em locais afastados, com pouco acesso de ônibus e sem asfalto se vê uma explosão de condomínios, alguns de luxo, sem qualquer explicação, como a Estrada dos Pereiras, em Caucaia do Alto; o bairro vê um surto de condomínios residenciais inacreditáveis, alguns abandonados pela metade.
Devastação de área verde na região de Caucaia do Alto

Além disso, quem é um pouco mais curioso e já procurou Cotia no Google Earth fica impressionado com as clareiras que encontra no meio do que deveria ser protegido. Em alguns lugares é possível ver pequenas construções e até caminhões, basta procurar. Até quando a natureza será vista como um incômodo ao ser humano? O histórico de efeitos decorrentes do desmatamento data do século anterior e ainda assim o homem parece não ter aprendido. Engana-se quem pensa que a atual seca paulista não tem ligação com a devastação de mais de 90% da Mata Atlântica e até mesmo da Amazônia, a ligação é direta, mas mesmo assim a negligência continua. O progresso é tão importante que vale arriscar o futuro? Talvez futuro nem dos nossos filhos, pela rapidez com que os efeitos têm se apresentado, talvez seja o nosso próprio futuro.

Entretanto, é claro que uma cidade não pode se estagnar, é por isso que a palavra sustentabilidade existe. O fato de ter em seu território uma extensa parte da floreta mais devastada do Brasil torna a cidade de Cotia importante, por que não usar isso então? Áreas de reserva são ótimas para a prática de turismo ecológico, ou Ecoturismo. Este é um turismo que explora os benefícios que só a natureza pode oferecer e ainda educa sobre práticas sustentáveis – que todos já sabem, mas acham que não fará diferença se só ele não praticar –. Talvez a ideia seja utópica, mas ainda assim é uma ideia e deveria ser estuda em todos os seus aspectos. A Reserva Florestal Do Morro Grande é muito pouco estudada, segundo um artigo publicado pela USP, então vamos explorá-la no melhor dos sentidos da palavra! A cidade poderia lucrar com mountain bike, trilha, visita a cachoeiras, entre outras atrações. É algo a ser pensado.

Mas de quem é a culpa disso tudo? A culpa é de cada ser humano da Terra. É fácil dizer que apenas os governantes têm culpa e tirar o peso de nossas costas. Recordemos a última eleição no Brasil: Durante as campanhas, quantos candidatos levantaram a bandeira da sustentabilidade? Quantos deles foram eleitos? Essas pessoas são tratadas como utópicas e quase não recebem atenção dos eleitores. Já aquele candidato que promete o desenvolvimento a qualquer custo é praticamente louvado.

Por: Carolina Marins | Editado por: Rudney Oliveira
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